Representações e perceções das variedades portuguesas no mundo lusófono
Summary
Excerpt
Table Of Contents
- Cobertura
- Título
- Copyright
- Sobre o autor
- Sobre o livro
- Este eBook pode ser citado
- Índice / Table of Contents
- Representações e perceções das variedades portuguesas no mundo lusófono: Introdução
- The Perception of Language Varieties: What’s been going on?
- A cognitive approach to language varieties
- Uma abordagem cognitiva de variedades linguísticas
- “O carioca fala muita gíria”: a fala carioca na representação dos idosos no Rio de Janeiro
- O português de Angola: perceção, avaliação e norma
- Perceções sobre a caracterização das variedades diatópicas do português europeu
- “Nossa, pensei que isso fosse russo…” – Perceções erróneas do português europeu como língua eslava
- Multilinguismo no sistema de educação em Timor-Leste: a perspectiva local da diversidade de línguas
- Processos de padronização numa situação de diáspora: Sobre o Português do Brasil no Canadá Multilingue Dinâmico
Jannis Harjus (Universität Innsbruck)
Benjamin Meisnitzer (Universität Leipzig)
Representações e perceções das variedades portuguesas no mundo lusófono: Introdução
O presente livro pretende discutir a espacialidade do mundo lusófono, partindo do ponto de vista dos falantes. Para tal finalidade, a questão central subjacente a este volume será a de averiguar onde os falantes veem as fronteiras, os espaços e os pontos de transição entre variedades diatópicas do português na Europa, em África, na América e na Ásia. O estudo da perceção de variedades pode trazer à luz resultados bastante interessantes relativamente à realidade da língua portuguesa no mundo, uma vez que, partindo de Gumperz (1975), assumiremos que a variação linguística depende também da consciência linguística dos falantes. Por isso, partimos de um conceito de variedade definido social-, individual- e cognitivamente:
As variedades do ponto de vista cognitivo-individual são parcelas do saber linguístico definidas por estruturas prosódico-fonológicas e morfossintáticas associadas a determinados contextos situacionais. Dado tratar-se de saber linguístico comum, resultante de atos de sincronização direcionados num mesmo sentido, as variedades são sempre também constituídas socialmente (Schmidt/Herrgen 2011, 42, tradução de BM & JH).
Para o desenvolvimento da dialetologia percetual foi decisiva a definição de cinco aspetos centrais relacionados com a perceção de variedades, por Preston (1989, 4):
- 1) Crenças relativamente à distribuição geográfica da fala;
- 2) Convicções em relação à norma padrão e às variedades linguísticas favorecidas por motivos afetivos e emocionais;
- 3) A perceção do grau de diferença entre a variedade local e as variedades linguísticas circundantes;
- 4) A imitação de caraterísticas de outras variedades;
- 5) Relatos anedóticos de como estas convicções e estratégias surgem e persistem.
No entanto, esta lista ainda mistura itens de diferentes níveis, pois 4) e 5) são indicadores de 1), 2) e 3), uma vez que as imitações e anedotas relativas às variedades linguísticas possibilitam aceder e compreender as crenças acerca da língua e da sua variação. Em Niedzielski & Preston (1999, 26) os autores reformulam um pouco os objetivos concedendo-lhes um maior grau de abstração, tendo-se o interesse voltado para o imaginário subjacente às afirmações sobre a fala, focalizando-se aquilo que as pessoas dizem e aquilo que dizem sobre o que é dito, o modo como é dito e a razão por que o dizem de determinada forma, ou seja, porque é que dizem o que dizem. Por outro lado, tem-se em conta a reação dos destinatários àquilo que é dito, relacionando língua, crenças e atitudes. Esta aproximação da variação linguística valoriza o saber linguístico leigo do quotidiano, podendo o interesse por aquilo que os leigos em linguística dizem em relação às variedades linguísticas ser descrito, com Anders (2010), do seguinte modo:
O saber linguístico leigo quotidiano é entendido como a interseção entre o saber social e o saber individual, que pode ser considerado como uma estrutura interna organizada de experiências do quotidiano dos indivíduos e dos grupos sociais, representando neste contexto uma parte constitutiva da construção da realidade (Anders 2010, 73, tradução de BM & JH).
Para Anders (2010), ao contrário do definido por Niedzielski & Preston (1999), o objeto de estudo da dialetologia percetual não são explicitamente modelos através dos quais leigos percepcionam a língua e a realidade, pois, segundo a autora, é impossível aos linguistas aceder a estes modelos na sua totalidade, pelo que focaliza as representações de variedades e variantes enquanto manifestações de modelos cognitivos (Anders 2010, 76). Esta aceção de dialetologia percetual vai na direção da argumentação de Krefeld & Pustka (2010, 20), que defendem que a variação diatópica corresponde a conceitos no imaginário dos membros de uma determinada comunidade linguística, na qual também se incluem os linguistas, uma vez que na fala de cada indivíduo se manifesta o idioleto, devido à singularidade linguística de cada falante. Segundo os autores as variedades linguísticas (incluindo as diatópicas) de uma língua histórica são tão arbitrárias como os signos linguísticos saussurianos, uma vez que não existe uma conexão lógica entre a delimitação de uma variedade e os indivíduos a ela associados, sendo esta um produto do imaginário ou da convenção social segundo a qual o indivíduo é aculturado, resultando a delimitação de variedades de escolhas em certa medida subjetivas, visto que as variedades apenas ganham relevância por serem julgadas como relevantes. Segundo Krefeld & Pustka (2010, 20) as variedades diatópicas parecem estar organizadas em contínuos formados por núcleos prototípicos e não à base de fronteiras fixas. Os autores diferenciam claramente entre a perceção, vista como processamento sensorial de enunciações, e a representação, que abrange tudo aquilo que uma determinada perceção provoca na mente do recetor (Krefeld & Pustka 2010, 12). O conhecimento linguístico leigo, por seu turno, é decisivo na medida em que independentemente de terem correspondência linguística ou não, influenciam as atitudes linguísticas.
Deste modo, Krefeld & Pustka (2010) alargam o modelo desenvolvido pela dialetologia percetual, conciliando neste todas as dimensões variacionais, cunhando o termo linguística percetual de variedades. Apesar de algumas diferenças concetuais, existe um forte potencial unificador e complementador entre a dialetologia percetual (de Preston) e a linguística percetual de variedades (de Krefeld e Pustka), conforme se pode constatar nos primeiros dois capítulos do presente volume.
A relevância e atualidade do tema do ponto de vista da investigação deve-se ao facto de haver inúmeros desiderata para o português no domínio do estudo do papel da perceção na definição de variedades linguísticas (sobretudo diatópicas). Pois se, por um lado, a dialetologia percetual foi aplicada bastante cedo no Rio Grande do Sul (Preston 1985), carece ainda de uma aplicação ao restante espaço variacional brasileiro, embora tenham surgido alguns trabalhos com uma orientação da linguística percetual (Kunze 2018). E enquanto que os estudos metalinguísticos que tomam em conta a perceção e o saber dos falantes, começam a surgir muito pontualmente para o português europeu (Paiva Boléo 1971; Ferreira 2009; Brissos/Saramago 2014), são raros para o galego (Kabatek 1996), e são quase inexistentes para as variedades do português em África e na Ásia. Finalmente, existem alguns estudos de caráter diacrónico sobre a consciência metalinguística das variedades do português na tradição linguístico- gramatical portuguesa (Azevedo Maia 2010; 2017). Esta antologia é, por conseguinte, a primeira a reunir estudiosos de fala portuguesa de todo o mundo e investigadores da mesma língua na Alemanha, Áustria e Estados Unidos da América a trabalhar sobre perguntas recentes da sociolinguística tomando por base teóri- co-metodológica a dialetologia percetual (Preston 1999) ou a linguística percetual de variedades (Krefeld/Pustka 2010). O livro está estruturado em duas partes: primeiro, três artigos na seção teórico-metodológica introduzem os conceitos básicos da dialetologia percetual e da linguística percetual de variedades. A segunda parte apresenta estudos de caso que tratam do português na África, na Europa, na Ásia e nas Américas, segundo uma orientação percetual.
Details
- Pages
- 186
- Publication Year
- 2024
- ISBN (PDF)
- 9783631924259
- ISBN (ePUB)
- 9783631924266
- ISBN (Hardcover)
- 9783631924242
- DOI
- 10.3726/b22179
- Language
- English
- Publication date
- 2024 (October)
- Keywords
- Romanistik Osttimor Brasilien Lateinamerika Angola Mozambique Afrika Portugal Laienlinguistik Perzeptive Dialektologie Spracheinstellungen Wahrnehmungsdialektologie Lusitanistik Soziolinguistik Perzeptive Varietätenlinguistik Varietätenlinguistik Portugiesisch
- Published
- Berlin, Bruxelles, Chennai, Lausanne, New York, Oxford, 2024. 186 pp.
- Product Safety
- Peter Lang Group AG