Vozes femininas de África
Poesia e Prosa
Summary
The idea for the present volume arose at the 8th German Lusitanistentag in Munich in 2009, in a sub-session entitled Women Writers in Lusophone Africa. This volume presents a first assessment of the manifold forms of literary discourse of women writers from the Portuguese-speaking countries of Africa. The poetic introduction of Ana Mafalda Leite and the dialogue between Ondjaki and Ana Paula Tavares complete the critical appreciation of the work of creative writers.
Excerpt
Table Of Contents
- Cobertura
- Título
- Copyright
- Sobre o Editors
- Sobre o Livro
- Este e-book pode ser citado
- Índice
- Prefácio: Anne Begenat-Neuschäfer, Flavio Quintale
- Foreword: Anne Begenat-Neuschäfer, Flavio Quintale
- Colaborações
- Fronteiras, de que lado pergunto-me: Ana Mafalda Leite
- Uma Pátria Chamada Poesia…: Carmen Lucia Tindó Secco
- Abstract
- A Fatherland called Poetry…
- “O difícil ofício de lavrar a paciência”: Achegas sobre a literatura de autoria feminina em países africanos de língua oficial portuguesa: Tânia Macedo
- A voz quase silenciada
- A consciência da subalternidade
- Brevíssimas considerações finais
- Abstract
- “The difficult task to plough with patience”: Observations about Literature by Female Authors of Countries with Portuguese as Lingua Franca.
- Ana Paula Tavares: lirismo e humanização na crônica angolana: Rita Chaves
- Abstract
- Ana Paula Tavares: Lyricism and Humanization in the Chronicles
- Entrevista com Ana Paula Tavares: Ondjaki
- O sonho de Angola entre messianismo e marxismo: uma interpretação benjaminiana do poema “Sapalalo” de Maria Alexandre Dáskalos: Flavio Quintale
- Abstract
- The Dream of Angola between Messianism and Marxism: An Interpretation in the Style of Benjamin of the Poem “Sapalalo” by Maria Alexandre Dáskalos.
- Globalização, cultura e identidade em Orlanda Amarílis: Benjamin Abdala
- Abstract
- Globalization, Culture and Identity in Orlanda Amarílis
- Dina Salústio: formas de valorizar as experiências: Maria Teresa Salgado
- Abstract
- Dina Salústio: Literary forms of the Appreciation of Experiences
- O sexo no texto? – debate dos sexos ou de estilo e forma narrativa: acerca de Paulina Chiziane, Mia Couto e Ondjaki: Helmut Siepmann
- Abstract
- Sex in the Text? – Gender Debate or Style and Narrative Form: concerning Paulina Chiziane, Mia Couto and Ondjaki
- A Poligamia no contexto urbano – Niketche de Paulina Chiziane, uma alegoría da dodernização?: Juri Jakob
- Abstract
- Polygamy in an Urban Context – Niketche by Pauline Chiziane, an Allegory of Modernization?
- Epifanias do feminino em Paulina Chiziane e Clarice Lispector: Sueli Saraiva, Ricardo Iannace
- Preliminares
- Epifanias e alteridades… Feridas sociais e cicatrizes pessoais
- Os “momentos luminosos” e a verdade atordoante da narrativa (À guisa de conclusão)
- Abstract
- Manifestations of the Feminine in Paulina Chiziane and Clarice Lispector
- Lília Momplé: Ninguém matou Suhura (1988) – Desconstrução narrativa dos mitos coloniais: Cornelia Sieber
- Atualidade da obra
- Desconstrução narrativa dos mitos coloniais
- Questões complexas de género e raça em Ninguém matou Suhura
- Abstract
- Lília Momplé: Ninguém matou Suhura (1988) – Narrative Deconstruction of Colonial Myths
- Jacinta – figura de passagem a uma nova era: A Muxiluanda, de Maria Celestina Fernandes: Anne Begenat-Neuschäfer
- Abstract
- Jacinta – A Figure of Passage to a New Era: A muxiluanda by Maria Celestina Fernandes
- Referências Bibliográficas
- Uma pátria chamada poesia (Carmen Lucia Tindó Secco)
- “O difícil ofício de lavrar a paciência”: Achegas sobre a literatura de autoria feminina em países africanos de língua oficial portuguesa (Tânia Macedo)
- Ana Paula Tavares: lirismo e humanização na crônica angolana (Rita Chaves)
- Entrevista com Ana Paula Tavares (Ondjaki)
- O sonho de Angola entre messianismo e marxismo: uma interpretação benjaminiana do poema “Sapalalo” de Maria Alexandre Dáskalos (Flavio Quintale)
- Globalição, cultura e identidade em Orlanda Amarílis (Benjamin Abdala)
- Dina Salústio: formas de valorizar as experiências (Maria Teresa Salgado)
- O sexo no texto? – debate dos sexos ou de estilo e forma narrativa: acerca de Paulina Chiziane, Mia Couto e Ondjaki (Helmut Siepmann)
- A Poligamia no contexto urbano – Niketche de Paulina Chiziane, uma alegoría da dodernização? (Juri Jakob)
- Epifanias do feminismo em Paulina Chiziane e Clarice Lispector (Sueli Saravaia, Ricardo Iannace)
- Lília Momplé : Ninguém matou Souhoura (1988) – Desconstrução narrativa dos mitos coloniais (Cornelia Sieber)
- Maria Celestina Fernandes: A Muxiluanda (Anne Begenat-Neuschäfer)
- Index Nominorum
- Os Autores
Prefácio
A ideia do presente volume nasceu durante o VIII Congresso de Lusitanistas da Alemanha, em 2009, em Munique, na seção intitulada “Escritoras da África Lusófona”.
Anne Begenat-Neuschäfer e Flavio Quintale organizaram e compilaram os frutos dessas discussões, em colaboração com colegas brasileiros da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Este volume apresenta os primeiros resultados dos estudos desses discursos literários multi-facetados das autoras africanas de língua portuguesa. Agradecemos aos autores Ana Paula Tavares e Ondjaki pela entrevista e Ana Mafalda Leite pela introdução poética ao tema que se incluem nessa publicação.
Agradecemos a todos que colaboraram para a realização desse volume, em particular, a Lewis Wickes pelos textos em inglês, a Paulo Gouveia pela revisão dos textos em português, a Lucia Mingers pela preparação dos originais e a Benjamin Gaca pela coordenação do projeto.
Aachen, Janeiro de 2014 | Anne Begenat-Neuschäfer, Flavio Quintale |
← ix | x →
Foreword
The idea for the present volume arose at the eighth German Lusitanistentag in Munich in 2009, in a sub-session entitled “Women Writers in Lusophone Africa”, chaired by Anne Begenat-Neuschäfer and Helmut Siepmann. At the time the subject appeared to be of only peripheral importance, today however it is assuming increasingly a foreground position.
The breadth of the discussion covered in this volume, which led to its publication, was defined and developed by Anne Begenat-Neuschäfer and Flavio Quintale in collaboration with Brazilian colleagues at the University of São Paulo and the University of Rio de Janeiro and we are happy to be now able to present a first assessment of the manifold forms of literary discourse of women writers from the Portuguese-speaking countries of Africa.
Thanks are due to Ondjaki and Ana Paula Tavares for allowing us to include their dialogue in our critical appreciation of the work of creative writers and to Ana Mafalda Leite for her poetic introduction to the subject-matter.
The editors wish to thank all those who have contributed to making this publication possible, in particular Lewis Wickes for the English-language texts, Paulo Gouveia for proof-reading the Portuguese texts, Lucia Minges for the preparation of the final manuscript for printing and Benjamin Gaca for the co-ordination of the project.
Aachen, January 2014 | Anne Begenat-Neuschäfer, Flavio Quintale |
← x | 1 →
COLABORAÇÕES
← 1 | 2 → ← 2 | 3 →
Fronteiras, de que lado pergunto-me
onde terá começado a fronteira do dia com a noite? a fronteira da água com a terra? a do azul com o lilás? porque tão dividido
o mundo em dois? no tratado de tordesilhas levou-se a ibéria ao novo mundo e mais tarde sentados em berlim muitos outros desenharam os mapas a compasso e esquadro
um continente não interiormente navegado diziam kurtz apontando o dedo ao acaso em caligrafias de cor ou a tinta da china um coração das trevas mapa cor de rosa a estilete gravado
na mão os mistérios arcos de décadas em bissectriz dançando a caneta em forma de bisel
de que lado pergunto-me nasce o aroma do coração? meu índico pé ponto de nó laçada entremeio azzurro azure azula-me o chão
em haurir de fogo misturo-me nas volutas e entranço-me num subir de velas talvez copra e curcuma o lançado mapa estilhaçado em panos esvoaçante desafiame as escolhas
de territórios em água marinha lápis lazúli quartzo de lua resplendor quero ser assim repartida em minhas pedrinhas espalhada em rios de terra e minérios quentes
carvão bauxite malaquite em chama meu amor minha terra meu leito de desejo não me procures nas fronteiras que não tenho
de que lado se põe o amor ao entardecer? onde me deito levanto-me e torno raiz plantada exactamente no interstício de uma falha inaugural
um lençol me exila ou exulta o destino transbordo entre muitos lugares nuvens e águas por isso questionam por vezes as minhas fronteiras a marca da diferença que me extraterrioraliza e me lança ao avesso das identidades
o forro por fora a seda por dentro vim vestida aos avessos das linhas de costura que fronteirizam macanga marávia mutarara chiúta zumbo moatize, furancungo zobué
em ponto pé de roseta ziguezague em duplo nós elos em cadeia raiz quadrada noves fora sempre indago a matemática sem resultado será que é indígena? será que é alienígena? será que é?
qual anjo sobranceiro a todas as terras, espreito esse estranho rosto de cabelos alaranjados em fogo entre muzimo e valquíria ← 3 | 4 →
sou austral e sou oriente a baunilha de madagáscar exala-me devagar muitos desertos apetecíveis sou ocidente e morde-me na boca um papiro de apagada escrita alexandria? atravesso-me nos céus a sul um cometa que passa: ano nyenyeza dizes-me foi quando? a luz irrompe em múltiplos lugares estranhos estou em casa sempre
a descobrir que voando se foram as andorinhas pousadas nos fios de eléctricas ondas invisíveis os postes de madeira brotando folhas novas caligrafias encriptadas
por isso na areia desenho rotas ruas endereços que não existem procuro as montanhas sagradas da angónia as pedras gigantes que sobem as escarpas do interior de outros mapas úteros ainda mais recônditos
no entanto sentado ele olha-me e aconchega na pele de antílope o som da terra
de que lado me olha o sol? e a lua? porque canta assim o pássaro bique-bique a íbis preta quando me cega o brilho das tuas pulseiras nos pulsos
dádiva nas mãos em concha vem uma mudança no tempo alimentar o espírito
diz a sua boca nhau que me fala através das pedras. ← 4 | 5 →
Uma Pátria Chamada Poesia…
A produção poética de Ana Mafalda Leite, editada a partir 1984, se faz herdeira, em vários aspectos, do lirismo de Glória de Sant’Anna, também oscilando, como a poética dessa autora, entre as fronteiras de duas pátrias: Moçambique, aonde viveu parte de sua vida; e Portugal, país para onde retornou e fixou moradia.
O Livro das encantações e outros poemas, conforme define a própria Mafalda numa entrevista, é uma antologia, ou seja, uma recolha poética, desde seu primeiro livro de poesia, Em Sombra acesa (1984), até Livro das encantações (2005), obra em que diversos poemas são encimados por epígrafes e dedicatórias a amigos com quem a autora partilhou, ao longo de sua vida, sensibilidades, amorosidades, cumplicidades.
As dedicatórias que se podem observar em alguns dos poemas inseridos no Livro das encantações permitem aquilatar a dimensão dos laços de afecto e de cumplicidade que a Ana Mafalda Leite foi tecendo ao longo dos tempos, cumplicidades que se estendem a um Mário Botas, recordando o Gulamo Khan ou à memória da Helena, à Sónia Sultuane, ao João Paulo Borges Coelho, Ídasse, Armando Artur, Ana Magaia, Jaime Santos e Lourenço de Rosário; ao André, ao Jota, ao Marco, à Sara, ao Paulo e à Joana. E também o Francisco Noa, a Ana Paula Tavares, o Lopito e sem esquecer o Kandjimbo. E ainda a tantos outros. Devem ter sido cumplicidades fantásticas. Porque a Ana Mafalda Leite nunca soube de que lado estava o desamor. Mas soube, desde sempre, de que lado estava a ternura, o que me leva a acreditar que ela sabia que a poesia, incluindo a sua, poderia alimentar essa ternura1.
A seguir aos poemas retirados de Em Sombra acesa, sucedem-se, nessa mais recente antologia de Ana Mafalda, composições poéticas extraídas de seus livros posteriores: Canções de alba (1989); Mariscando luas (1992, em parceria com Luís Carlos Patraquim e Roberto Chichorro); Rosas da China (1999); Passaporte do coração (2002); Livro das encantações (2005).
Como barcos em viagem, os sujeitos líricos dos poemas de Ana Mafalda percorrem trilhas marítimas, fluviais, ou navegam por dentro da palavra poética; alçam voo e riscam o infinito, criando vida e imaginação. Tecem uma poesia que se realiza como encantamento do ser e da linguagem. Segundo o poeta moçambicano Calane da Silva, autor do prefácio à edição desta antologia em Mo-çambique, a poética de Ana Mafalda Leite é pura “encantação”: ← 5 | 6 →
transporta o luar de Tete, as águas do Zambeze, as praias do Índico, o cheiro da chuva moçambicana, ao mesmo tempo que acaricia a primavera lusitana2.
O trajeto lírico dos sujeitos poéticos das obras antologizadas começa atravessando sombras, rumores de vozes ao fim da tarde, quando as primeiras estrelas e a lua branca se erguem no céu. É quando a solidão penetra o âmago do coração do poeta e acende a manhã da poesia: corpo moçambicano de contas e missangas, do qual “a voz arranca/ surpreendida/ intraduzível som”3.
[…]
crescem obscuras as sombras
Details
- Pages
- X, 180
- Publication Year
- 2014
- ISBN (PDF)
- 9783653035100
- ISBN (MOBI)
- 9783653991642
- ISBN (ePUB)
- 9783653991659
- ISBN (Softcover)
- 9783631645093
- DOI
- 10.3726/978-3-653-03510-0
- Language
- Spanish; Castilian
- Publication date
- 2014 (February)
- Keywords
- lusophones Afrika weibliche Literatur Angola Mosambik
- Published
- Frankfurt am Main, Berlin, Bern, Bruxelles, New York, Oxford, Wien, 2014. X, 180 p.
- Product Safety
- Peter Lang Group AG